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Criação Humana: Carl Sagan na Idade da Pedra


A ciência tem como finalidade desvendar a Natureza à nossa volta. Queremos compreender os processos. Como funciona e porquê. Quando e onde. Para quê e com quanto de energia. Contudo dá jeito a algumas pessoas que seja um ser superior a comandar-nos para nos descartarmos de pensamentos complexos e também de nos descartarmos de algumas culpas. Um deus é o ideal para nos sentirmos felizes com acidentes ou para atribuírmos a solução complexa a um ser poderoso.

Carl Sagan escreveu um texto bastante ilucidativo de como um povo nómada da idade da pedra descobriu um deus, antes de perceber o que era a realidade da Natureza:

“Um dia houve uma tempestade com muitos relâmpagos e trovões (…) o segredo da tempestade está escondido. (…) Talvez seja alguém muito poderoso que está zangado. Acho que deve ser alguém do céu.

Depois da trovoada (…). Fomos ver. Era uma coisa brilhante, quente, saltitante. (…) Chamamos-lhe «chama». (…) Come plantas (e) árvores. (…) É forte mas não é muito inteligente. (…) É incapaz de percorrer o espaço entre duas árvores se não tiver alimentos (…). Não consegue andar sem comer.

(…) Se corrermos muito com uma chama pequena ela morre(…). A chama é uma dádiva de seres poderosos. Serão os mesmos que se zangam e fazem a tempestade?

(…) O céu cobre-nos. (…) Costumávamos sentar-nos em roda, a inventar histórias sobre os desenhos do céu: leões, cães, ursos, caçadores. (…) Seriam as figuras dos poderosos seres do céu, daqueles que fazem a tempestade quando estão zangados?

(…) As nuvens passam entre nós e as estrelas: (…) devem estar para lá das nuvens (…). A Lua não come as estrelas. As estrelas devem estar para lá da Lua.

(…) As estrelas são chamas, pensei (…) são fogueiras que outras tribos de caçadores acendem à noite (…). Perguntam-me, «como é que pode haver fogueiras no céu? Porque (…) não caem a nossos pés? Porque não caem do céu tribos estranhas?»

Um de nós (…) pensa que a noite é uma grande pele de animal (…). A pele tem buracos. Através do buracos (…) vemos fogo.

(…) Talvez haja no céu duas espécies de seres poderosos. Os maus, que desejam que o fogo nos devore. E os bons que põe a pele para afastar o fogo. Temos de arranjar maneira de agradecer aos bons”


“Cosmos”, Carl Sagan, 5ª Edição, 1997

Parece-me que basta não perceber de física para dar a uma maçã poderes divinos na Lua.

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18/03/2011

Criação Humana: Carl Sagan na Idade da Pedra


A ciência tem como finalidade desvendar a Natureza à nossa volta. Queremos compreender os processos. Como funciona e porquê. Quando e onde. Para quê e com quanto de energia. Contudo dá jeito a algumas pessoas que seja um ser superior a comandar-nos para nos descartarmos de pensamentos complexos e também de nos descartarmos de algumas culpas. Um deus é o ideal para nos sentirmos felizes com acidentes ou para atribuírmos a solução complexa a um ser poderoso.

Carl Sagan escreveu um texto bastante ilucidativo de como um povo nómada da idade da pedra descobriu um deus, antes de perceber o que era a realidade da Natureza:

“Um dia houve uma tempestade com muitos relâmpagos e trovões (…) o segredo da tempestade está escondido. (…) Talvez seja alguém muito poderoso que está zangado. Acho que deve ser alguém do céu.

Depois da trovoada (…). Fomos ver. Era uma coisa brilhante, quente, saltitante. (…) Chamamos-lhe «chama». (…) Come plantas (e) árvores. (…) É forte mas não é muito inteligente. (…) É incapaz de percorrer o espaço entre duas árvores se não tiver alimentos (…). Não consegue andar sem comer.

(…) Se corrermos muito com uma chama pequena ela morre(…). A chama é uma dádiva de seres poderosos. Serão os mesmos que se zangam e fazem a tempestade?

(…) O céu cobre-nos. (…) Costumávamos sentar-nos em roda, a inventar histórias sobre os desenhos do céu: leões, cães, ursos, caçadores. (…) Seriam as figuras dos poderosos seres do céu, daqueles que fazem a tempestade quando estão zangados?

(…) As nuvens passam entre nós e as estrelas: (…) devem estar para lá das nuvens (…). A Lua não come as estrelas. As estrelas devem estar para lá da Lua.

(…) As estrelas são chamas, pensei (…) são fogueiras que outras tribos de caçadores acendem à noite (…). Perguntam-me, «como é que pode haver fogueiras no céu? Porque (…) não caem a nossos pés? Porque não caem do céu tribos estranhas?»

Um de nós (…) pensa que a noite é uma grande pele de animal (…). A pele tem buracos. Através do buracos (…) vemos fogo.

(…) Talvez haja no céu duas espécies de seres poderosos. Os maus, que desejam que o fogo nos devore. E os bons que põe a pele para afastar o fogo. Temos de arranjar maneira de agradecer aos bons”


“Cosmos”, Carl Sagan, 5ª Edição, 1997

Parece-me que basta não perceber de física para dar a uma maçã poderes divinos na Lua.

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